domingo, 22 de junho de 2008

'A volta do Vinil' e 'Resistência ao MP3' por Gabriel Brust

{'A volta do Vinil', matéria retirada do jornal ZH, 21/06/2008}

A volta do Vinil
Quem vende CD, seja numa loja segmentada para colecionadores, seja numa megazine âncora de shopping center, sentiu nos últimos anos o mesmo impacto da mistura explosiva de pirtaria com música digital. A queda nas vendas é exponencial, mas são justamente estes dois modelos de negócios localizados em extremos opostos que estão conseguindo se sustentar, mesmo que a duras penas. Getúlio Costa, proprietáio da loja Boca do Disco, afirma que a receita para fazer a sua tradicional loja - referência a 23 anos no centro de POA - sobreviver nestes tempos difícies é não tentar competir com as grandes magazines.
- Se você está numa linha muito comercial, não tem como competir com os grandes. Hoje, para sobreviver, é preciso estar segmentado. Tem que ter coisas diferenciadas e exclusivas - ensina o comerciante.
A boca do Disco continua focando em colecionadores de disco, de vinil ou de CD. Segundo o proprietário, o seu público não é tão afetado pela música digital, já que a intenção do colecionador é ter a peça na estante de casa. Para isso, paga até R$ 5 mil por um vinil de Roberto Carlos, por exemplo, e continua procurando CD importados.
- É uma questão de escala. Hoje você precisa ter alto giro. O sebo dá a você uma margem de 100% ou 200%. Vende menos, mas tem um ganho maior - explica Vilson Noer, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre.
Getúlio Costa se diz o pioneiro numa tendência que agora começa a tomar também as grandes lojas: a volta do Vinil. Não apenas os antigos, ms também lançamentos. A explicação parece ser uma só: na medida em que o CD foi substituído por uma mídia ainda ais prática e compacta que ele para ouvir no dia-a-dia - o MP3 -, o fã de música passa a buscar o vinil a peça para guardar em casa, com fotos grandes e melhor qualidade de som. O CD agora não é nem o mais prático, nem o mais bonito.
- O vinil é procurado por uma minoria, mas é crescente. O CD vende, mais mas está caindo - afirma o comerciante.
O mesmo sintoma é verificado na outra ponta do segmento, a Livraria Cultura, uma das grande rede nacional de lojas de livros e discos. A loja recentemente inaugurou uma seção de vinil - com lançamentos, como o mais novo álbum da banda britânica Radiohead -, e os resultados são surpreendente. As vendas do bolachão representaram menos de 1% do total das lojas, mas cresceram 400% em relação a 2007. Fabio Herz, diretor comercial da rede de lojas, explica que incluir o vinil foi uma forma de consolidar a política que a empresa já tem com o CD: o de investir em produtos importados e diferenciados. Coisa comum não entra.
- Os best-seller são cada vez menos importantes para nós. Claro que sempre vamos ter o novo da Madonna, mas a participação dos lançamentos nas vendas é pequena - afirma Herz, que, mesmo assim, sabe que o negócio tem vida curta: - Se vendêssemos só CD, ficaria muito difícil. Acho que o CD em 10 anos vai estar fora do mercado.
Resistência ao MP3
A tendência é irreversível: o formato de música em arquivos de computador, o MP3, que pode ser executado em qualquer aparelhinho que cabe no bolso, veio para ficar. A novidade começa, somente agora, a repercutir nos números de venda. As mesmas estatísticas da Associação Brasileira de Produtores de Disco que mostra o desastre na venda de CDs - queda de mais de 30% de 2006 para 2007 - , mostra também que as vendas de música online legalizadas, outrora incipientes no Brasil, estão crescendo. A música MP3 baixada pelo telefone celular cresceu 127%, e a proveniente da internet, incríveis 1.600%.
Em apenas um ano, a participação do MP3 no total de vendas de música dobrou: foi de 4% em 2006 para 8% em 2007.
Ainda assim, a tecnologia não parece acessível ou simples o suficiente para todos, e quem tem dinheiro para seguir comprando CDs prefere o hábito de garimpar as lojas. Este público garante a sobrevivência, ainda que capenga, das lojas de disco. Entre eles está o funcionário público Rodrigo Simões, 34 anos. A coleção de mais de 2 mil CDs que ele tem em casa não pára de crescer, principalmente porque Simões faz parte de um público que, apontam os comerciantes, não é afetado pela música online. O funcionário público não é adolescente e nem consome música pop. Gosta de jazz e música erudita, dois gêneros cujos apreciadores costumam ser colecionadores de disco.
- Costumo conhecer coisas novas pelo YouTube, porque ele é simples, e daí vou comprar. Baixar MP3 ainda leva muito tempo - explica Simões.

Cinco sintomas da morte do CD
1. Do a Radiohead (ou "Fazer um Radiohead", em inglês) virou a expressão da moda, e é usada sempre que um artista decide distribuir música por conta própria na rede, de graça, assim como o grupo inglês Radiohead, do vocalista Thom Yorke, fez no ano passado. Em 2008, as bandas Coldplay e Nine Inch Nails fizeram o mesmo. No Brasil, Tom Zé, Ed Motta e o Cansei de Ser Sexy se preparam para também "fazer um Radiohead".

2. Uma pesquisa organizada pelo British Music Rights sobre os hábitos de download e cópia dos fãs de música comprovou o que todo mundo já sabia: 96% dos fãs entre 14 e 24 anos copiam música ilegal, gratuitamente. Também na Inglaterra, o renomado crítico Norman Lebrecht acaba de decretar a morte da indústria fonográfica, em seu mais recente livro, Maestros, Obras-primas & Loucura (Record, 350 páginas, R$ 47).

3. Com o MP3 suplantando o CD no quesito praticidade, o disco de vinil volta a ser o preferido dos colecionadores e começa a ser fabricado novamente. As vendas dos bolachões aumentaram 36,6% em 2007 nos EUA, vendendo 1,3 milhões de unidades. Nada de espírito retrô: as mais descoladas e modernas bandas de rock estão lançando seus discos também em vinil.

4. No Brasil, a queda de vendas de CD foi tão grande que os critérios para se ganhar um disco de ouro, platina ou diamante mudaram. A partir de 2004, as vendas mínimas para ganhar as distinções caíram pela metade: Disco de Ouro foi de 100 mil para 50 mil, de platina foi de 250 mil para 175 mil, e o de diamante de 1 milhão para 500 mil. Nenhum artista brasileiro hoje vende mais de 1 milhão de discos.

5. Em Porto Alegre, a Banana Records, a última rede de lojas dedicada exclusivamente aos CDs, anuncia o fim das suas operações em 2008. Na pesquisa anual de intenção de compras no Dia dos Namorados realizada pela Câmara dos Dirigente Lojistas, pela primeira vez o CD não apareceu.

Abraços ;**

2 comentários:

DonnaCris. disse...

Sei lá. por mais que seja "demodê" pra maioria das pessoas o fato de se comprar cds e vinis, eu acho super normal. e não vou deixar morrer esse hábito que eu acho tão legal aqui em porto alegre. Não consigo ver Porto Alegre sem suas habituais lojas de vinil aqui da Andradas e do viaduto da Borges. Sem falar que tu, praticamente, entra num "túnel do tempo" quando a gente cruza a porta de qualquer uma dessas lojas.
Pode me chamar de piegas, mas não tem nada como um bom xiadinho de vitrola..
Beijo!
C.

DonnaCris. disse...

naaada disso!!
em 1º tá o meu - e o teu tbm, tamo empatado :P
e depois vem o bolachão! xD

beijo!
C.